quinta-feira, 1 de maio de 2008

Narcose

O AMANTE DE GADGETS (o amante da tecnologia)
Para McLuhan, diretamente ligado a um fato da experiência humana está o mito grego de Narciso. A história conta que o jovem Narciso tomou seu próprio reflexo na água como sendo de outra pessoa, por quem veio a se apaixonar. Assim a extensão de si mesmo pelo espelho enfraqueceu suas percepções, tornando-se um servo mecanismo de sua própria imagem repetida ou prolongada. Dessa forma, Narciso constituiu um sistema fechado e, conforme o teórico canadense, demonstra que os homens se tornam fascinados por qualquer extensão de si mesmos e em qualquer material que não seja o deles próprios.

Conforme a teoria de McLuhan, qualquer tecnologia ou invenção é uma extensão ou auto-amputação de nosso corpo, sendo que tal extensão exige novas relações e equilíbrios entre os demais órgãos e extensões do corpo, isto é, as tecnologias já existentes. O teórico conta que, embora não estivesse na intenção de Hans Selye e Adolphe Jonas fornecer uma explicação para a invenção e a tecnologia humanas, o certo é que eles nos deram uma teoria da doença que chega a explicar porque o homem é impelido a prolongar várias partes de seu corpo, numa espécie de auto-amputação.
Para ele, sob pressão de hiperestímulos físicos das mais variadas espécies, o sistema nervoso central reage para proteger-se numa estratégia de amputação ou isolamento do órgão, sentido ou função atingida. Assim, o estímulo para uma nova invenção é a pressão exercida pela aceleração do ritmo e do aumento de carga.
Assim a imagem refletida do jovem Narciso é uma auto-amputação ou extensão provocada por pressões irritantes. Como contra-irritante, a imagem provoca um entorpecimento ou choque generalizado que obstrui o reconhecimento. A auto-amputação impossibilita o auto-reconhecimento. Ela acaba nos obrigando a tornarmos reféns dela mesma, afinal todos nós estamos praticamente adaptados às novas tecnologias e acabamos deixando de lado os nossos costumes básicos, transformando-os a partir do uso da tecnologia.

No decorrer do uso normal da tecnologia, do seu corpo em extensão diversa, o homem é constantemente modificado por ela e, em contrapartida, também a transforma. O mundo da máquina, então, corresponde ao amor do homem atendendo às suas vontades e desejos, ou seja, promovendo-os de riqueza e deixando-o dependente dele e satisfatoriamente bem. Socialmente a acumulação de pressões e irritações grupais conduz à invenção e à inovação como contra irritantes. O princípio do embotamento vem a tona com a tecnologia elétrica, ou com qualquer outra. Temos de entorpecer nosso sistema nervoso central quando ele é exposto e projetado para fora. Caso contrário, parecemos. Na era da eletricidade, usamos, então, toda a Humanidade como nossa pele.

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